domingo, 25 de janeiro de 2009

A primeira vez no Tribunal do Juri nunca se esquece

Era o julgamento de uma infeliz senhora que movida por ciúmes sufocantes matou o marido com um só tiro, quando ele entrava, de madrugada, em casa. Eu atuava como assistente do órgão acusador. Antes de começar a sessão o juiz se reuniu comigo e com o representante do Ministério Público e me informou que este não sustentaria a tese constante do libelo processual porque tinha evoluido para o entendimento de que o crime fora culposo. Surpreso, declarei que me manteria firme na minha tese de crime doloso, então, em confronto com a defesa e com o próprio autor da ação penal. Instalou-se um impasse e uma grande perplexidade em mim quanto àquela inusitada situação. O juiz decidiu proceder ao julgamento mesmo em tais circunstâncias.
Cheguei a cogitar de dizer ao magistrado que o Tribunal do Juri não era competente para a causa, segundo o princípio do juiz natural. Não resisti porém, em partir para aquela minha primeira vivência e nos direcionamos todos para o sala do tribunal. No caminho ia pensando em apresentar a tese da incompetência do juri popular, logo após a manifestação do Promotor de Justiça. Mais uma vez sucumbi ao meu antigo sonho de atuar no Tribunal do Juri e desafiei para o debate a tribuna da defesa, composta de um grande criminalista fluminense, seu filho e um advogado da cidade, além do próprio membro do Ministério Público a quem eu "assistiria" sustentando tese contrária a sua. A sala do tribunal estava superlotada, incluindo as familias numerosas da vítima e da ré. Poderia ter requerido, após a fala do acusador oficial, a dissolução do Conselho de Sentença, por incompetência absoluta deste para o julgamento de crimes culposos contra a vida. Não o fiz. Sustentei a minha tese, houve réplica e tréplica, com toda aquela espetaculosidade inerente a tais tribunais. O promotor de justiça revelara sua mais recente convicção quanto à tese do crime culposo, em pronunciamento que não excedeu a cinco minutos de duração. Manteve-se silente durante todos os debates, em posição profundamente constrangida e desconfortavel. (Continua)

2 comentários:

  1. Sou absolutamente incapaz de entender a área de vocês. Meu senso de justiça não combina com as leis vigentes. Por este motivo não compreendo certas sentenças, mesmo que se enquadrem dentro das leis. Leis para mim são as Divinas, assim como a Justiça. As dos homens são maleáveis de acordo com os interesses de cada causa...
    Um abraço

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  2. Seria o caos total se todos contassem so com a justiça divina(???) e nao lutassem por justiça mais justa aqui na terra mesmo.. onde nao voam anjinhos nem um sabio universal absoluto e propotente resolve tudo do jeito dele.. inquestionável...Leis pra mim sao aquelas que julgam todos sob um mesmo olhar..independente de raça,credo ou cor..ou grana.chegaremos la se continuarmos a lutar..e pararmos de acreditar em sandices divinas!

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